segunda-feira, 30 de maio de 2011

Sobre a professora Amanda Gurgel

Quem tem internet provavelmente viu ou ficou sabendo do vídeo da professora Amanda Gurgel. Esse vídeo foi gravado no dia 10 de maio desse ano em uma audiência pública na câmara dos deputados do Rio Grande do Norte e foi parar no youtube.



A reação foi viral, muitas pessoas, inclusive eu, postaram no facebook e outras redes sociais, o número de acessos cresceu de forma vertiginosa e de repente a professora se viu famosa, fez várias entrevistas em diversos canais, foi até no Faustão.

O que mais me impressionou sobre a fala de Amanda não é que ela exponha novidades, pelo contrário, ela discorre sobre o que todo mundo já sabe. A educação no Brasil não é considerada como prioridade, os professores são mal pagos, trabalham em três turnos pra conseguir se sustentar e por aí vai. Ela ressalta que muito se diz sobre programas e reformas de longo prazo, mas algumas necessidades, como a necessidade dos professores de se alimentar e das crianças de ter uma educação de qualidade, são imediatas, dessa forma algumas medidas imediatas devem ser tomadas.

Durante a entrevista da professora no Programa do Faustão, que foi ao ar no dia 22 de maio desse ano, foi ressaltado que a educação é base de uma sociedade digna, que todo mundo, “quando olha no retrovisor da vida”, pra usar as palavras do apresentador, encontra um professor que fez diferença, que foi marcante, que ajudou no crescimento pessoal. É legal que a gente adquira a consciência de que esses profissionais, tão importantes para nossa formação, se desdobram em dois pra conseguir permanecer na profissão, principalmente os de escolas públicas, que além de lidar com salários baixos precisam muitas vezes contornar as condições estruturais precárias.

A sociedade precisa se organizar e exigir que os políticos no poder, eleitos pelo povo, se voltem para educação, que é a base de uma sociedade igualitária. A educação não é responsabilidade apenas daqueles envolvidos diretamente, pais, alunos e professores, mas de todos. 

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Homofobia

Um assunto que está bastante presente em todas as mídias nesses últimos dias é o kit anti homofobia planejado pelo MEC para combater a violência, a humilhação e a evasão escolar de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT) que foi vetado pela presidente Dilma.

O kit foi muito atacado pelas bancadas evangélicas integrantes do governo que afirmam que o material induziria a escolha da opção sexual de forma não convencional.

Os três vídeos constantes do kit vazaram na internet e quem estiver curioso pra assistir pode buscar no youtube. Eu assisti e pessoalmente não identifiquei nada que pudesse ser considerado propaganda de opção sexual ou agressivo de qualquer forma.

O que alguns jornalistas têm dito é que o veto do kit foi uma manobra política governamental para, cedendo nesse ponto, conseguir apoio da bancada evangélica na votação de outras questões, uma espécie de toma lá dá cá.

Apesar do veto, o kit continua nos planos do MEC, porém antes de sua distribuição sofrerá modificações.

O Governo do Estado do Rio de Janeiro também tem demonstrado preocupação com a homofobia e lançou no dia 16 de maio desse ano a campanha Rio sem homofobia, que pretende incentivar o respeito, a cidadania e os direitos humanos de LGBT. O primeiro vídeo da campanha já está disponível:


Essas duas campanhas, mesmo a que foi vetada, mostram uma crescente preocupação governamental de incentivar o respeito e a inclusão dos LGBT na sociedade. Todos somos diferentes uns dos outros e a violência, discriminação e preconceito em qualquer forma ou escala é prejudicial para a sociedade como um todo. Cada um tem direito de viver a vida conforme deseja, desde que não infrinja nenhuma lei. Algumas pessoas se sentiram agredidas com os vídeos, mas aí é que está a questão, algumas pessoas se sentem agredidas com o que é diferente simplesmente por isso, porque é diferente.

Devemos nos policiar para evitar essa conduta de aversão ao diferente, buscar a integração de todos à sociedade.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Teatro Engajado

Lendo o texto de um amigo sobre Teatro Engajado comecei a pensar sobre as questões levantadas por ele. Achei muito interessante a discussão sobre a questão da arte pela arte ou da arte que leva a pensar, por isso estou reproduzindo uma versão adaptada do texto dele:

Uma grande confusão é causada pelos termos no que diz respeito a um teatro que trabalhe com o homem inserido em questões sócio-políticas, mas é costume reduzí-los ao chamado Teatro Político. Teatro de Propaganda, Teatro Revolucionário, Teatro Engajado. Sociologicamente, toda discussão é política, assim, todo teatro se definiria como político, porque discute alguma coisa. Mas, ganhou status separado, um tipo de teatro que busca causar mudanças de importância sócio-política.
Nascido de uma discussão que abrangeu inicialmente todas as áreas da arte, com o início da Arte Moderna, que colocaria em pontos opostos os artistas que defenderiam a “arte pela arte” e a arte com sentido, o Teatro Político foi amplamente discutido em todo o século XX. Aqueles que defenderiam que a arte é algo autônomo, sem necessidade de pensar algo que não seja ela mesma e a arte que impõe discussão sobre a vida. O fato de artistas esteticistas se colocarem contra o Engajamento já significa uma conduta política. Pensando assim todos os artistas sérios são engajados. Mas não se trata apenas de saber se o artista tem um ponto de vista político formado; trata-se de saber se o seu ponto de vista político faz parte integrante da sua obra.
Há muitas tendências diferentes. O teatro que vai discutir a questão do negro, da mulher, do homossexual, etc, partindo de pressupostos estéticos bem diferentes. Mas, a característica anti-lúdica será preponderante.
Mas como podemos então diferenciar esse Teatro Engajado de sua forma essencial chamada de Teatro Político? Este teatro não busca mudar a sociedade como o Teatro de Propaganda, mas sim o homem. Se ele não tenta “catequizar” com uma resposta pronta para o mundo, ele só tenta mudar ou conscientizar o homem. E, ainda, por considerar que o Teatro Engajado muda a realidade em prol dessa conscientização o Teatro Engajado nasce da união de política e teatro.
Por trás da discussão sobre Engajamento está a eterna discussão sobre a finalidade da arte. A arte deve ensinar ou proporcionar prazer? É possível que as duas coisas aconteçam simultaneamente? Esse debate está repleto de paradoxos, e de paradoxos inevitáveis, uma vez que a ação de aprender pode ser um prazer, e que, por outro lado, o fato de estar experimentando uma sensação de prazer não nos impede de estar aprendendo alguma coisa.
Algumas obras desse tipo de teatro são maniqueístas, indutivas demais. Mas é essa a preocupação de um teatro engajado. Se mostrar um ser humano, não conseguirá efeito sobre a platéia que poderá se identificar com o mau e o achar injustiçado. Já mostrando o homem mau de forma radical, conseguiria causar a indignação na platéia.
No fim das contas: Teatro Engajado é aquele que, simplesmente, quer “levar as pessoas a se engajarem”.
(Texto de: Thiago Herzog; adaptado por: Luciana Gomes)

A arte pode ser usada pra se fazer pensar além da beleza das obras, essa discussão, apesar de estar focada no teatro, é válida pra todos as representações artísticas. A arte engajada nos leva a pensar e, através dessa reflexão, modificar a nós mesmos e mais amplamente a sociedade.

Aí achei que é estranho que a gente precise de lembretes pra pensar a nossa própria sociedade. Não que o teatro engajado seja dispensável, longe disso, justamente por conta dessa forma de agir meio "alienada". Nós precisamos mesmo de alguma obra de arte para raciocinarmos a questão do negro? Do preconceito em geral? Da inclusão de minorias, como os deficientes? A gente não vê no dia a dia vários acontecimentos que poderiam ter um desfecho diferente se a gente interferisse? Porque em última instância o objetivo do teatro engajado é esse, fazer com que as pessoas se engajem, que ajam.

E ainda, essa preocupação não é de mudar o coletivo, e sim transformar o individual, pra que este único indivíduo alterado consiga através de suas atitudes transformar a sociedade. Pra gente ver como nossas atitudes fazem diferença sim, mesmo dentro de um grupo muito grande de pessoas.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Fazendo escolhas

Desde que eu me entendo por gente há uma discussão sobre a questão do consumo de drogas. Todos os dias temos algum tipo de contato com o assunto: nas ruas, no nosso prédio, na TV, nos jornais. Não podemos ignorar a existência delas e é necessário que pensemos qual a melhor forma de lidar com isso. Atualmente há, inclusive, uma ampla discussão sobre a legalização das drogas, mas será que é esse o caminho?

Durante muitos anos foi utilizada uma política de “guerra às drogas”, no sentido de combate de uma “guerra” com outra “guerra”. Porém, desde a década de 90, vários profissionais de diversas áreas começaram a perceber que essa política não estava surtindo o efeito desejado, que seria a diminuição do consumo e do comércio de drogas. Houve, inclusive, o efeito contrário, ou seja, dados mostram que esses números cresceram desde meados da década de 70, quando essa política bélica começou a vigorar.

Por conta disso, recentemente surgiu uma nova discussão: repressão ou redução de danos, eis a questão.

Uma grande amiga, Mariana Adade, que é psicóloga e pesquisadora na área de educação sobre drogas, acredita na política de Redução de Danos como instrumento de inclusão. Ela afirma que a perspectiva da Redução de Danos parte de uma evidência histórica: o uso de drogas sempre existiu e ele está associado a vários contextos e motivações: religiosos, artísticos, interativos... está relacionado a busca do prazer, está relacionado a buscar tamponar e ou aplacar um mal estar, uma dor, um vazio, enfim... mil possibilidades e mil razões para consumir. A partir daí se desdobram outras características da abordagem: o uso é contextualizado, há a consideração de todos os elementos envolvidos e existem várias possibilidades de uso, logo, existem também várias formas de lidar com esse uso.

Confesso que a princípio fui resistente à essa política, pois eu a ligava à ideia de legalização. Mas Mariana me explicou que uma coisa não está necessariamente ligada a outra.

Ela esclareceu que a Redução de Danos considera que existem vários tipos de drogas, de usos. Para além disso, considera a singularidade do humano entendendo que as pessoas são diferentes, logo, elas farão usos diferentes de diferentes drogas. Ela acredita que não é a droga em si, mas a relação que cada um estabelece com a droga e a função que se atribui a ela para desempenhar em sua vida. Assim, resgata-se a autonomia do humano, no sentido dele ter direito de fazer escolhas mas ao mesmo tempo de se implicar nessas escolhas no sentido de se responsabilizar pelas mesmas.

Estudos abordam a Redução de Danos como uma política que busca valorizar o humano e resgatar a identidade da pessoa que faz uso de drogas ao invés de atribuí-lo um estereótipo de doente ou marginal, como acaba acontecendo com a política de repressão, na qual, de um modo geral, o usuário rico é considerado doente, enquanto que o usuário pobre é considerado marginal.

Perguntei à Mariana como os programas de Redução de Danos podem ser espaços de exercício da cidadania. Segundo ela, “a Redução de Danos busca resgatar a autonomia, a cidadania das pessoas no sentido de valorizar o direito humano de realizar escolhas. Para além disso, ao mostrar que a questão é ampla e histórica, amplia as possibilidades de desenvolvimento de um olhar crítico, demonstra que a realidade social não é predeterminada e não está relacionada a uma única forma de ser, ou seja, desconstrói uma perspectiva naturalizante das coisas, o aceitar que é assim porque simplesmente é.”

Mariana atualmente desenvolve um projeto de pesquisa no qual ela visa a atualização de um jogo chamado Jogo da Onda (FIOCRUZ/Edições Consultor, 1998).



O Jogo da Onda, desenvolvido pelas pesquisadoras Sandra Rabello e Simone Monteiro, do Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (LEAS/FIOCRUZ), é um jogo educativo que objetiva incentivar o diálogo entre jovens, profissionais, pais, filhos e amigos sobre o uso indevido de drogas e temas afins. Foi produzido em 1998 e desde então foi adotado em programas de educação, encontrando-se atualmente esgotado.

"A escola deve ser espaço mais sagrado que qualquer templo"

Um assunto que continuará atual por bastante tempo, infelizmente, será o massacre à escola de Realengo, no Rio de Janeiro. A violência contra crianças tem nuances mais sutis, que às vezes passam despercebidas na sociedade. Penso que o texto abaixo, da educadora Maria Frô, é bem pertinente.
"Acordo muito cedo, levo minha filha pra escola, volto e por volta das 7 H retomo minha rotina. Sou educadora, aprendi a ser desde quando, no 1º ano da Universidade, entrei numa sala de aula de Educação de Adultos, depois em salas de 3º ano de Ensino Médio, e depois com crianças de 6º e 7º anos do Ensino Fundamental e, paralelamente, formando professores em diferentes cursos de formação mas, especialmente, na formação para a educação em direitos humanos, na educação para a igualdade étnico racial.

Educar é a minha vida, acredito que podemos educar em todos os espaços sociais (no mundo off line e no mundo on line).

Hoje, pela manhã, em Realengo, Rio de Janeiro, Wellington Menezes Oliveira conseguiu entrar armado na escola municipal Tasso da Silveira (de Ensino Fundamental), e até o momento as notícias desencontradas das tevês e jornais informam que 11 crianças foram assassinadas com tiros na cabeça e abdômen.

O mundo inteiro se volta para o Brasil, para Realengo, para o Rio de Janeiro: Guardian, Le Figaro e La Nación, Al Jazeera, BBC, El País, La Reppublica e Wall Street Journal - ”A tragédia choca a sociedade brasileira, de orientaçao familiar e onde a violência contra crianças é rara”. Infelizmente, a violência contra as crianças e adolescentes não é rara no país. Existem diferentes formas de violência, adolescentes, meninos, negros são os mais vitimados. Uma pequena busca aqui no Blog mostrará alguns vídeos de policiais atirando em adolescente em Manaus, policiais espancando adolescente em Feira de Santana e tantas outras formas de se propagar a violência.

Professores exauridos, desestimulados cansam-se de denunciar a violência em várias escolas urbanas das periferias brasileiras: crianças e adolescentes expostos ao tráfico de drogas, alunos armados, roubos… Mas nada se compara ao que aconteceu nesta escola hoje. Uma escola de referência, pois tem uma política inclusiva, atende deficientes auditivos.

Na manhã de hoje a escola recebia ex-alunos para dar palestras em comemoração aos seus 40 anos. Segundo relatos de profissionais da escola de Realengo o ex- aluno, Wellington, aproveitou-se disso e se identificou como um dos palestrantes.

Não se tem ainda informações seguras sobre o que levou este jovem a matar 11 crianças de 12 a 14 anos (10 meninas e 1 menino) e ferir mais 29! Quanto a morte do atirador, a versão do sargento Alves, o primeiro a chegar na escola é de que o atirador foi baleado pelo sargento e após levar um tiro se matou.

Há uma imensa especulação na mídia televisiva e impressa sobre o perfil do atirador: desde que se tratava de um ‘extremista islâmico‘, de que era ‘filho adotivo’, ‘viciado em internet’, jovem de ‘poucos amigos’, ’portador do HIV’…

Esse é um momento perigoso, onde empresas jornalísticas em busca de audiência exploram como podem esta imensa tragédia: islamismo, adoção, internet e portadores de HIV tornam-se explicações fáceis para nossas mentes bestificadas diante do absurdo que é crianças serem mortas dentro da escola.

Ouço na Record News o absurdo do apresentador João dizer que ataques como este é ‘normal’ no Oriente Médio! Tevês dizem que o atirador deu mais de 100 tiros! Como seria possível dar mais de 100 tiros se o atirador portava dois revolveres de calibre 38? Como este jovem tinha tanta munição? Como conseguiu as armas? Como fomos capazes de dizer não ao desarmamento e sim ao comércio de armas?

Tento escrever este texto em busca de alguma organização mental, emocional. Sou mãe, educadora, não posso sequer imaginar a dor incomensurável desses pais que deixaram seus filhos na escola, porque é um espaço de saber, um espaço de formação, um espaço de cidadania, um direito das crianças e adolescentes frequentarem de modo seguro, um dever de governos proverem e uma obrigação constitucional dos pais enviarem seus filhos.

No meio de tantas especulações feitas pela imprensa, é preciso ressaltar o bom senso do prefeito Paes ao se pronunciar: não espalhou pânico, defendeu a escola como um espaço da comunidade.

A presidenta Dilma Rousseff fez um pronunciamento visivelmente emocionada em solidariedade às famílias e as crianças vitimadas.

A ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário sabiamente ressaltou que neste primeiro momento é preciso oferecer toda a solidariedade e apoio às crianças da escola e as famílias das vítimas e, ao mesmo tempo, lembrou à imprensa de sua responsabilidade, para que evitassem espetacularizar esta tragédia espalhando pânico entre as crianças. Rosário rememorou, por exemplo, como a imprensa explorou o caso da menina Isabela. Mesmo assim na Record News prosseguia insistindo no ‘argumento’ de que nos ‘demais países’ isso é ‘terrorismo’ e se não iremos tratar assim também! Como pode uma tevê propor esta abordagem sem qualquer investigação?

Como pode políticos oportunistas como o deputado Marcos Feliciano mais uma vez se aproveitar de uma tragédia sem precedentes no país pra espalhar seus dogmas equivocados, intolerantes, irresponsáveis e afirmar que tal tragédia é uma profecia divina pra castigar infiéis?

Gostaria imensamente que aprendêssemos como tragédias como estas. As escolas não devem virar prisões (algumas já têm este aspecto) elas devem ser espaços valorizados pelas comunidades, devem ser fortalecidas, queridas, abraçadas, nossas crianças efetivamente protegidas, tratadas com dignidade para que cresçam amando o conhecimento e diminuindo o grau de intolerância. Nossos profissionais da educação devem ser valorizados, porque é uma imensa responsabilidade e exige uma tremenda formação profissional formar futuros cidadãos.

Que esta tragédia não sirva para os oportunistas de sempre pregarem mais e mais intolerância. Que possamos aprender com Hannah Arendt a lição maior da autoridade: o mundo adulto é responsável pelas gerações futuras. Não fujamos de nossas obrigações. Isso significa que todo adulto deve ser responsável por qualquer criança. Isso significa, por exemplo, olharmos para além dos nossos umbigos, de nossas crias, de nossos alunos, isso exige de nós um compromisso maior e real com políticas públicas que sejam capazes de incluir, educar, prover de espaços culturais e de lazer, formar e amar todas as nossas crianças. Elas merecem um futuro melhor que balas na cabeça em seu espaço escolar."
Texto da educadora Maria Frô.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

A grama do vizinho nem sempre é mais verde


Noite passada quando fui dormir me peguei pensando em quanto tempo que eu não faço um trabalho voluntário. Desde muito cedo me interessei por este tipo de atividade e por conta disso tive a oportunidade de conhecer histórias que eu trago comigo até hoje e com certeza vou carregar por toda vida.

Há uns 2 anos atrás visitei um projeto social chamado Espaço Criança Esperança (ECE) no Morro do Cantagalo, em Ipanema. Eles têm uns programas de inclusão social muito bacanas. Na comunidade existem crianças que nascem, crescem, e, apesar de irem pra escola, não fazem ideia do que é ser um cidadão, até porque não é tratado como tal e, muitas vezes, ele mesmo se coloca numa posição inferior. O ECE não dá só educação no sentido de colocar as crianças e adolescentes na escola. O programa proporciona uma série de atividades - esporte, artes, oficinas de leitura - que possibilitam o pleno desenvolvimento dessa criança/adolescente, tornando-os conscientes de seu papel na sociedade. Faz com que esse indivíduo se sinta parte de um todo e não se diminua pelo fato de possuir uma situação social/financeira mais frágil. O programa gera oportunidades que vão além daquelas que o tráfico em algum momento virá a oferecer. Sem dúvida essa foi a minha experiência mais marcante.

Nessa caminhada conheci também uma ONG chamada BEMFAM – Bem Estar Familiar no Brasil, cujo foco são projetos sociais voltados para a saúde sexual e reprodutiva. Entre os diversos projetos desenvolvidos, o que mais me chamou atenção foi o “Vozes Positivas”, que enfoca questões vivenciadas por mulheres soropositivas. Outro projeto que eu acho bem bacana é o “Que Legal Saber!”, cujo objetivo é contribuir para a informação e capacitação em saúde sexual e reprodutiva de portadores de deficiência visual. Tem também o BEMJOVEM, que é um programa voltado para jovens entre 10 e 24 anos, realizando atividades com os pais, familiares e educadores que atuem com esse grupo. Envolve Centros de Jovens espalhados em 9 Estados do Brasil e que contam com uma política de voluntariado. Essa ONG tem muitos projetos interessantes, se eu fosse escrever sobre todas não caberia neste post!!!

Eu já ia me esquecendo de um outro local que eu atuei! Foi no Banco de Alimentos. Essa ONG recebe doações de alimentos, que são selecionados por uma equipe e posteriormente distribuídos para instituições de caridade pré cadastradas. Cheguei a visitar algumas das instituições beneficiadas e o sorriso daquelas crianças nunca saiu da minha mente.

Vocês podem estar se perguntando o que eu ganhei com isso. Pois é... ganhei sorrisos, abraços, agradecimentos, olhares e até amigos. Olhando para trás eu vejo o quanto foi gratificante participar destas e de outras atividades que beneficiassem o outro. Devemos cuidar da nossa grama colocando limites para que não pisem nela, mas sem sermos egoístas. Caso nosso vizinho não tenha condições de manter sua grama verdinha e podada, por que não ajudá-lo, não é verdade?

Segue abaixo o link das instituições que eu citei, caso alguém se interesse:

http://criancaesperanca.globo.com/platb/ecerj/

http://www.grupobemfam.org.br/bemfam/

http://www.bancodealimentos.org.br/por/index.htm

domingo, 22 de maio de 2011

Análise de 1965 (Duas Tribos) - Legião Urbana




Letra: Renato Russo
Álbum: As Quatro Estações (1989)

Vou passar, quero ver
Volta aqui, vem você
Como foi, nem sentiu
Se era falso, ou fevereiro
Temos paz, temos tempo
Chegou a hora e agora é aqui
Cortaram meus braços
Cortaram minhas mãos
Cortaram minhas pernas
Num dia de verão
Num dia de verão
Num dia de verão
Podia ser meu pai
Podia ser meu irmão
Não se esqueça, temos sorte
E agora é aqui
Quando querem transformar
Dignidade em doença
Quando querem transformar
Inteligência em traição
Quando querem transformar
Estupidez em recompensa
Quando querem transformar
Esperança em maldição
É o bem contra o mal
E você de que lado está?
Estou do lado do bem
E você de que lado está?
Estou do lado do bem
Com a luz e com os anjos
Mataram um menino
Tinha arma de verdade
Tinha arma nenhuma
Tinha arma de brinquedo
Eu tenho um autorama
Eu tenho Hanna-Barbera
Eu tenho pêra, uva e maçã
Eu tenho Guanabara
E modelos Revell
O Brasil é o país do futuro
O Brasil é o país do futuro
O Brasil é o país do futuro
O Brasil é o país
Em toda e qualquer situação
Eu quero tudo Pra cima
Pra cima
Pra cima


O título, 1965 (Duas Tribos): 1965 é o 2º ano da ditadura militar (golpe militar de 1964), quando os militares fecharam as “portas” do país, tomaram o poder e cassaram os direitos políticos de inúmeros brasileiros, dentre eles artistas, políticos e estudantes. Duas Tribos, civis e militares.
1º momento: A Confusão. Seis primeiros versos da música. Observamos como se deu o golpe militar de 64, os militares nunca conseguiram explicar com clareza seus feitos, os reais motivos de tomarem o poder, passaram a idéia de “algo cinza”, se confundiram tentando explicar o inexplicável. “Como foi, nem sentiu/Se era falso ou fevereiro”: aqui se observa a real confusão do golpe, é “verdadeiro ou fevereiro”, é real ou não é? O que é falso? O que é verdadeiro? Agora estamos no poder “Temos paz, temos tempo” provavelmente temos, ou geramos, a paz e todo tempo do mundo. “Chegou a hora e agora é aqui”: 1964.
2º momento: A Censura e/ou tortura. Versos 7 a 14. Para entendermos o 2º momento, temos duas vertentes: A Censura e a Tortura. A Censura: no direito se expressar. Se não temos braços e mãos, estamos cerceados. Não podemos “dizer” o que pensamos. Censurados os direitos de ir e vir, se estamos com nossas pernas cortadas. A Tortura: Usando métodos de tortura física e psicológica os militares “interrogavam” os presos políticos. Nesse caso o “cortar” é literal mesmo, usado como recurso pra extrair a informação que desejavam dos presos. Essa Censura ou Tortura podia acontecer com todos indiscriminadamente, comigo, você ou nossos pais e irmãos, não importando o dia.
3º momento: Tentativa dos militares de popularizar sua ideologia. Versos 15 a 23. O 3º momento é uma crítica aos métodos de persuasão dos militares, e como eles forçavam a aceitação do seu poder, das suas vontades, empurrando sobre o povo seus ideais através de propaganda massiva. A dignidade é uma doença? Ou seja, ser digno é ser transformado em doente. Eram usados pelos militares variados métodos de investigação, entre eles a Inteligência, método utilizado por todas as polícias do mundo, inclusive em espionagem e contra-espionagem, mas que nesse momento era usado contra os “subversivos”, aqueles em desacordo com o governo. A Inteligência traía até os próprios colegas, os civis nem se fala, eram fichados e investigados de perto. Os militares veladamente protegiam informantes e pagavam uma espécie de recompensa para quem os ajudasse com informações sigilosas de cunho político. A esperança era a queda desse regime opressor, e a manifestação dessa esperança era severamente punida, daí chamar de maldição.
4º momento: Há dois caminhos, escolha o seu. Versos 24 a 29. Nesse momento o eu lírico fala da velha e conhecida luta do bem contra o mal, deixa clara a sua opinião de que há dois caminhos e nos incita a escolher enquanto afirma que está do lado do “bem”, em oposição ao “mal”, nesse caso a ditadura. O eu lírico repete que está do lado do bem várias vezes, pra no fim dizer que está do lado da luz e dos anjos: o “bem”.
5º momento: Atrocidades. Versos 30 a 33. O 5º momento é o ápice das atrocidades da ditadura brasileira, é uma crítica em se matar inocentes por muito pouco, e eles tinham armas reais enquanto “o menino”, não tinha como se defender, ou tinha somente a ilusão de que havia formas de lutar.
6º momento: Aumento de diferenças sociais. Versos 34 a 38. Naquela época quem tinha um brinquedo autorama? Quem conhecia os desenhos animados de Hanna Barbera? Quem tinha dinheiro. A minoria. E a crítica segue, agora com a comida que a população comum podia, ou não, comprar, ao mesmo tempo em que fala sobre uma brincadeira infantil, ilustrando uma infância tranqüila, que nem todas as crianças tinham. Revell é uma marca que vende kits que vêm com material para a montagem de miniaturas de carros, navios, aviões, etc., existe até hoje e é muito cara.
7º momento: País do presente. Verso 39 ao fim da música. Esse último momento é uma crítica à mentalidade brasileira da época, que considerava o Brasil como um país “do futuro”, seremos um país do futuro até quando? Temos que ser um país do presente, o futuro é agora, já, aqui mesmo, agora! Há uma repetição, um futuro que parece ser distante e que nunca chegará. Mas seja qual for a situação o povo brasileiro é valente, acredita no país e tem esperança que esse futuro não tarde muito e que em breve chegará (fim da ditadura), com liberdade de expressão, de ir e vir entre outras, por isso mantém seu ânimo, se mantém “pra cima”, mesmo nessa situação ruim.

É bom lembrar que essa análise é uma tentativa de entender o que o autor da música quis dizer, não necessariamente a exposição de uma realidade. A música expressa opiniões e sentimentos de quem a compõe. Quando o compositor tem boa consciência e educação política, que é o caso de Renato Russo, e se propõe a falar de algo específico, pode no mínimo nos dar o que pensar.

Temos que ter cuidado com a “demonização” da ditadura, se por um lado os direitos políticos foram cerceados (voto, liberdade de escolha de partido, etc.), por outro o governo compensou ampliando os direitos civis (educação, saúde, etc.). Ainda que algumas instituições públicas, como a escola, por exemplo, fossem usadas para difundir os padrões de comportamento que os militares queriam que a população tivesse, não é o caso de pensar que a população sofria sem parar.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Jeitinho brasileiro



Essa semana, voltando para casa de ônibus após mais um dia de casa-trabalho-faculdade-casa, me deparei com uma cidadã brasileira comendo amendoim e jogando a embalagem no chão do ônibus. Provavelmente pelo cansaço, na hora não me dei conta, mas estiquei o braço e recolhi a embalagem, guardando na lateral da mochila para jogar fora depois, como faço com meu lixo particular; como se a embalagem fosse minha e tivesse caído. Ela e o namorado - sim, ela tinha um namorado - imediatamente me olharam confusos. Como eu estava ainda mais confuso, enterrei a cabeça no livro que estava lendo e continuei a viagem, porém não pude deixar de pensar no assunto.

Na hora lembrei de um ótimo texto do João Ubaldo Ribeiro, Precisa-se de matéria-prima para construir um país. O autor fala sobre uma "esperteza brasileira congênita", uma "desonestidade em pequena escala". A mesma cidadã que jogou o lixo no chão do ônibus, provavelmente reclama da qualidade dos transportes públicos, da sujeira na cidade, do governo e do presidente. É a mesma brasileira que espera um messias presidencial para dar uma solução mágica ao país. Mas o que pode fazer uma única pessoa, eleita representativamente, se nós não somos capazes do mínimo? O que pode fazer um presidente com uma "matéria-prima defeituosa"? Precisaremos de uma lei punindo quem joga lixo no chão? Só funcionamos à base de punições?

Não digo pra ninguém sair por aí recolhendo lixo alheio, até porque eu não pretendo fazer isso, mas não jogar o lixo no chão já é um começo.

Lembro também de uma ilustração engraçada de um professor de História que tive no sexto ano - alguns anos atrás -, onde ele falava sobre uma bolinha de papel no chão, que entupia o bueiro, que causava uma enchente e matava uma velhinha. Trágico? Talvez tenha sido um bom trauma, pois lembro disso até hoje...


terça-feira, 17 de maio de 2011

Essência da educação: ensinando para a vida!

Sabe aquelas pessoas especiais que aparecem no nosso caminho? Eu tenho que reconhecer que a vida foi muito bacana comigo! Entre tantas outras pessoas, as idas e vindas da vida fizeram com que eu conhecesse Vera, uma mulher guerreira, inteligentíssima e que dedicou sua vida ao magistério.

O texto abaixo foi escrito por ela e, confesso, quase me fez chorar. Demonstra o quanto ela se dedicou à sua profissão e aos seus alunos e ao mesmo tempo é esclarecedor em relação ao papel do professor na construção da cidadania. Pessoas como a Vera fazem a diferença e eu não tenho dúvidas que ela é um exemplo a ser seguido. Vale a pena a leitura.

“Diziam as velhas teorias que as crianças seriam folhas em branco, onde o professor deveria depositar conhecimentos. Confesso que, antes de me deparar com minha primeira turma, pensava que seria importante ensinar e ajudá-las a ter uma visão de mundo mais definido. Delicioso engano!
A primeira coisa que me aconteceu foi verificar que cada criança já trazia consigo uma bagagem de experiências próprias. Cada dia uma experiência infinitamente sem igual. Não se tratava apenas de transmitir conhecimentos, mas de vivenciar momentos gostosos de troca de experiências, de aprender brincando, de compartilhar sentimentos verdadeiros, enfim, de viver!
Após trinta e três anos de práticas pedagógicas, posso afirmar que o papel do professor não é o de salvador, mas sim, através de uma postura ética, o de tornar-se um instrumento que vai favorecer ou não a aprendizagem. Por isso, o objetivo maior da prática educativa e escolar é a construção da cidadania. Esta postura ética do professor é a mola mestra que vai nortear o sucesso da mesma.
Pude ao longo destes anos comprovar o que estou dizendo. Tive um aluno, filho de ex-presidiária e pai desconhecido, que era muito indisciplinado e agressivo. Já havia repetido o ano três vezes e ficava sentado no final da sala sem falar com ninguém. Não o conhecia, mas na semana do dia do trabalho fiz uma pesquisa sobre as profissões e soube que ele trabalhava à noite em uma padaria. Fiquei tão admirada por um menino de treze anos que trabalhava para se sustentar e ajudar em casa que comecei a admirá-lo e mostrar a turma que, apesar das dificuldades e com força de vontade, podemos mudar as coisas e a sociedade. A partir daí, seu comportamento mudou e ele se tornou um dos melhores alunos da Escola. Hoje é um homem de bem e formado em fisioterapia. Ainda continuamos a ter contato. Tive alunos que perdi para o tráfico, mas que, mesmo assim, se encontravam comigo e diziam que era errado o que estavam fazendo. Diziam-me que guardavam ainda nossas aulas no pensamento, mas que não podiam deixar o tráfico, pois seriam mortos.
Uma das coisas que mais me emocionou foi quando eu, desanimada com a profissão por me achar sem valor na atual situação do magistério, saí para arejar a cabeça no metrô de Acari, pois sempre trabalhei em comunidades carentes e, sozinha na estação, vi um trem parar na posição contrária e apenas uma mulher sair. Começou a subir a escada e de repente olhou para trás e voltou correndo em minha direção, pois só havia nós duas na estação. Chegou perto de mim e me abraçou dizendo que me viu e que não podia deixar de dizer que eu fui muito importante em sua vida. Que lembrava não só da matéria que ensinei, e sim do que eu havia transmitido como pessoa, mulher e cidadã. Cursava a faculdade de enfermagem e me confessou que eu tinha sido a melhor professora que ela tinha tido. Como chegou, foi embora naquela estação do metrô. Ali, percebi que todos estes anos de profissão valeram à pena.
Quero dizer, por toda a minha experiência, que realmente a construção da cidadania é a essência do papel do professor. Através do seu olhar, da sua palavra e das suas atitudes informa e forma cidadãos a aprender para a vida.”
Vera Neves Barreiro*
* Pedagoga e Orientadora Educacional, Vera Barreiro faz parte do quadro de professores do Município do Rio de Janeiro há 33 anos.

domingo, 15 de maio de 2011


Oi a todos, sejam bem vindos ao nosso gramado!

A intenção desse blog é discutir formas eficazes de se inserir e participar na sociedade.
Como assim? Temos nossos deveres e direitos, precisamos conhecê-los bem para, dessa forma, conseguir participar amplamente da sociedade.

A idéia inicial é que a gente respeite o espaço do outro, que não pise na grama do vizinho, mas ao mesmo tempo precisamos que nosso gramado seja respeitado. A garantia de que essas coisas aconteçam não se dá pela força, mas sim pela conscientização. Precisamos entender o papel que nos cabe para podermos representá-lo de forma completa e abrangente.

Esse papo de direitos e deveres está pra lá de batido, mas será que nós conhecemos os nossos direitos e deveres? Claro que nossos deveres sempre são cobrados de nós, e os nossos direitos quando vão lembrar deles? Os impostos são pagos, até mesmo nas balas que a gente consome, mas por que a educação pública não oferece estrutura adequada para os alunos? Por que o sistema público de saúde vai mal das pernas? Como a gente pode melhorar esse quadro? É possível que um indivíduo sozinho consiga modificar alguma coisa? Até mesmo o sistema prisional, método de punir aqueles que não cumpriram com seus deveres, que infringiram as leis, funciona de forma precária.

Todos esses questionamentos são válidos. Nós não vamos apresentar respostas, vamos pensar e trabalhar juntos para elaborar formas de contribuir para melhorar a sociedade em que vivemos e, dessa forma, a nossa própria vida.