terça-feira, 17 de maio de 2011

Essência da educação: ensinando para a vida!

Sabe aquelas pessoas especiais que aparecem no nosso caminho? Eu tenho que reconhecer que a vida foi muito bacana comigo! Entre tantas outras pessoas, as idas e vindas da vida fizeram com que eu conhecesse Vera, uma mulher guerreira, inteligentíssima e que dedicou sua vida ao magistério.

O texto abaixo foi escrito por ela e, confesso, quase me fez chorar. Demonstra o quanto ela se dedicou à sua profissão e aos seus alunos e ao mesmo tempo é esclarecedor em relação ao papel do professor na construção da cidadania. Pessoas como a Vera fazem a diferença e eu não tenho dúvidas que ela é um exemplo a ser seguido. Vale a pena a leitura.

“Diziam as velhas teorias que as crianças seriam folhas em branco, onde o professor deveria depositar conhecimentos. Confesso que, antes de me deparar com minha primeira turma, pensava que seria importante ensinar e ajudá-las a ter uma visão de mundo mais definido. Delicioso engano!
A primeira coisa que me aconteceu foi verificar que cada criança já trazia consigo uma bagagem de experiências próprias. Cada dia uma experiência infinitamente sem igual. Não se tratava apenas de transmitir conhecimentos, mas de vivenciar momentos gostosos de troca de experiências, de aprender brincando, de compartilhar sentimentos verdadeiros, enfim, de viver!
Após trinta e três anos de práticas pedagógicas, posso afirmar que o papel do professor não é o de salvador, mas sim, através de uma postura ética, o de tornar-se um instrumento que vai favorecer ou não a aprendizagem. Por isso, o objetivo maior da prática educativa e escolar é a construção da cidadania. Esta postura ética do professor é a mola mestra que vai nortear o sucesso da mesma.
Pude ao longo destes anos comprovar o que estou dizendo. Tive um aluno, filho de ex-presidiária e pai desconhecido, que era muito indisciplinado e agressivo. Já havia repetido o ano três vezes e ficava sentado no final da sala sem falar com ninguém. Não o conhecia, mas na semana do dia do trabalho fiz uma pesquisa sobre as profissões e soube que ele trabalhava à noite em uma padaria. Fiquei tão admirada por um menino de treze anos que trabalhava para se sustentar e ajudar em casa que comecei a admirá-lo e mostrar a turma que, apesar das dificuldades e com força de vontade, podemos mudar as coisas e a sociedade. A partir daí, seu comportamento mudou e ele se tornou um dos melhores alunos da Escola. Hoje é um homem de bem e formado em fisioterapia. Ainda continuamos a ter contato. Tive alunos que perdi para o tráfico, mas que, mesmo assim, se encontravam comigo e diziam que era errado o que estavam fazendo. Diziam-me que guardavam ainda nossas aulas no pensamento, mas que não podiam deixar o tráfico, pois seriam mortos.
Uma das coisas que mais me emocionou foi quando eu, desanimada com a profissão por me achar sem valor na atual situação do magistério, saí para arejar a cabeça no metrô de Acari, pois sempre trabalhei em comunidades carentes e, sozinha na estação, vi um trem parar na posição contrária e apenas uma mulher sair. Começou a subir a escada e de repente olhou para trás e voltou correndo em minha direção, pois só havia nós duas na estação. Chegou perto de mim e me abraçou dizendo que me viu e que não podia deixar de dizer que eu fui muito importante em sua vida. Que lembrava não só da matéria que ensinei, e sim do que eu havia transmitido como pessoa, mulher e cidadã. Cursava a faculdade de enfermagem e me confessou que eu tinha sido a melhor professora que ela tinha tido. Como chegou, foi embora naquela estação do metrô. Ali, percebi que todos estes anos de profissão valeram à pena.
Quero dizer, por toda a minha experiência, que realmente a construção da cidadania é a essência do papel do professor. Através do seu olhar, da sua palavra e das suas atitudes informa e forma cidadãos a aprender para a vida.”
Vera Neves Barreiro*
* Pedagoga e Orientadora Educacional, Vera Barreiro faz parte do quadro de professores do Município do Rio de Janeiro há 33 anos.

Um comentário:

  1. Olá, meu nome é Robson Sanabio e fui colega de turma da Vera no curso de pedagogia.
    Sempre soube do petencial dela, mas não pude acompanhar sua carreira, poiso destino me fez ir parar em outra cidade, em outro estado.
    Desde a graduação Vera já mostrava esta sensibilidade e vontade de fazer algo de diferente pela educação.
    É uma alegria muito grande poder ver, depois de trinta anos, que tudo aquilo que ela demonstrava virou uma realidade.
    Pena ter perdidoo dontato com ela!

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