quarta-feira, 25 de maio de 2011

Fazendo escolhas

Desde que eu me entendo por gente há uma discussão sobre a questão do consumo de drogas. Todos os dias temos algum tipo de contato com o assunto: nas ruas, no nosso prédio, na TV, nos jornais. Não podemos ignorar a existência delas e é necessário que pensemos qual a melhor forma de lidar com isso. Atualmente há, inclusive, uma ampla discussão sobre a legalização das drogas, mas será que é esse o caminho?

Durante muitos anos foi utilizada uma política de “guerra às drogas”, no sentido de combate de uma “guerra” com outra “guerra”. Porém, desde a década de 90, vários profissionais de diversas áreas começaram a perceber que essa política não estava surtindo o efeito desejado, que seria a diminuição do consumo e do comércio de drogas. Houve, inclusive, o efeito contrário, ou seja, dados mostram que esses números cresceram desde meados da década de 70, quando essa política bélica começou a vigorar.

Por conta disso, recentemente surgiu uma nova discussão: repressão ou redução de danos, eis a questão.

Uma grande amiga, Mariana Adade, que é psicóloga e pesquisadora na área de educação sobre drogas, acredita na política de Redução de Danos como instrumento de inclusão. Ela afirma que a perspectiva da Redução de Danos parte de uma evidência histórica: o uso de drogas sempre existiu e ele está associado a vários contextos e motivações: religiosos, artísticos, interativos... está relacionado a busca do prazer, está relacionado a buscar tamponar e ou aplacar um mal estar, uma dor, um vazio, enfim... mil possibilidades e mil razões para consumir. A partir daí se desdobram outras características da abordagem: o uso é contextualizado, há a consideração de todos os elementos envolvidos e existem várias possibilidades de uso, logo, existem também várias formas de lidar com esse uso.

Confesso que a princípio fui resistente à essa política, pois eu a ligava à ideia de legalização. Mas Mariana me explicou que uma coisa não está necessariamente ligada a outra.

Ela esclareceu que a Redução de Danos considera que existem vários tipos de drogas, de usos. Para além disso, considera a singularidade do humano entendendo que as pessoas são diferentes, logo, elas farão usos diferentes de diferentes drogas. Ela acredita que não é a droga em si, mas a relação que cada um estabelece com a droga e a função que se atribui a ela para desempenhar em sua vida. Assim, resgata-se a autonomia do humano, no sentido dele ter direito de fazer escolhas mas ao mesmo tempo de se implicar nessas escolhas no sentido de se responsabilizar pelas mesmas.

Estudos abordam a Redução de Danos como uma política que busca valorizar o humano e resgatar a identidade da pessoa que faz uso de drogas ao invés de atribuí-lo um estereótipo de doente ou marginal, como acaba acontecendo com a política de repressão, na qual, de um modo geral, o usuário rico é considerado doente, enquanto que o usuário pobre é considerado marginal.

Perguntei à Mariana como os programas de Redução de Danos podem ser espaços de exercício da cidadania. Segundo ela, “a Redução de Danos busca resgatar a autonomia, a cidadania das pessoas no sentido de valorizar o direito humano de realizar escolhas. Para além disso, ao mostrar que a questão é ampla e histórica, amplia as possibilidades de desenvolvimento de um olhar crítico, demonstra que a realidade social não é predeterminada e não está relacionada a uma única forma de ser, ou seja, desconstrói uma perspectiva naturalizante das coisas, o aceitar que é assim porque simplesmente é.”

Mariana atualmente desenvolve um projeto de pesquisa no qual ela visa a atualização de um jogo chamado Jogo da Onda (FIOCRUZ/Edições Consultor, 1998).



O Jogo da Onda, desenvolvido pelas pesquisadoras Sandra Rabello e Simone Monteiro, do Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (LEAS/FIOCRUZ), é um jogo educativo que objetiva incentivar o diálogo entre jovens, profissionais, pais, filhos e amigos sobre o uso indevido de drogas e temas afins. Foi produzido em 1998 e desde então foi adotado em programas de educação, encontrando-se atualmente esgotado.

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